23-02-2018 - Sobre o eucalipto

Os primeiros europeus a descobrir o Eucalipto

O género Eucalyptus nasceu formalmente em 1788, pela mão do botânico francês Charles-Louis L’Héritier, a partir de exemplares recolhidos na costa australiana, alguns anos antes nas famosas viagens do explorador inglês James Cook (1-3). No entanto, não foi Cook, nem os seus homens, os primeiros europeus a observarem plantas deste importante género botânico. Na realidade, os primeiros europeus que viram eucaliptos nem sequer se encontravam na Austrália. Estavam um pouco mais a Norte, mais concretamente na Ilha de Timor e eram exploradores portugueses (1-3). Estes intrépidos navegadores e comerciantes chegaram oficialmente à Ilha de Timor em 1515, mais de 250 antes das viagens de Cook (4). O objectivo inicial dos portugueses era o sândalo (Santalum album), madeira com elevado valor comercial (4), mas ao longo de todo o processo de colonização é certo que viram e deram uso a muitas outras espécies, incluindo as espécies de eucaliptos que cresciam ali naturalmente.

Na ilha de Timor podem ser encontradas três espécies nativas de eucaliptos. São elas o E. urophylla, E. orophila e o E. alba (5, 6). Os indígenas conheciam os dois primeiros por ampupu e E. alba por ai-bubur, mas os portugueses chamaram-lhes simplesmente palavão-preto e palavão-branco, respetivamente. Embora não exista qualquer registo, existe a possibilidade dos portugueses terem levado sementes destas espécies para outros locais, nomeadamente o Brasil, que na altura também era colónia portuguesa (3). Infelizmente, os portugueses perderam a oportunidade de ouro de descrever cientificamente as novas espécies encontradas, facto que, curiosamente, só veio a acontecer em 1826, para E. alba, 1977, para E. urophyllaE. orophila (5).


Legenda:
Mapa com a área de distribuição natural do género Eucalyptus (a cinza), com destaque para as áreas de distribuição natural de Eucalyptus urophylla (a vermelho), E. orophila (a azul) e E. alba (a verde), adaptado de Slee et al 2006 (1).
O Eucalyptus urophylla é uma árvore (até 55 m), originária da ilha de Timor e das ilhas indonésias adjacentes (Wetar, Alor, Pantar, Lomblen, Adonara e Flores), conhecida mundialmente como Timor mountain gum, numa alusão ao tipo de habitat desta espécie, que aparece nas montanhas até quase aos 3000 m de altitude, onde forma florestas de grande porte. O nome urophylla é uma referência ao facto das folhas possuírem um ápice comprido. O seu cultivo foi muito fomentado no Brasil, sendo ainda hoje plantado puro em muitos países como importante espécie florestal. Forma facilmente híbridos com outras espécies de eucaliptos, nomeadamente com E. grandis, com o qual dá origem a Eucalyptus x urograndis, hibrido de elevada produtividade (5-7).

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O Eucalyptus orophila é uma pequena árvore (até 15 m), endémica da ilha de Timor, mais concretamente do Monte Ramelau, razão pela qual foi designada pelo nome orophila, que significa amigo da montanha. É uma espécie muito próxima de E. urophylla, da qual certamente teve origem, tendo sido tratada até 1995 como uma população dessa espécie. Está no entanto mais adaptada à alta altitude, diferindo de E. urophylla, por possuir menor dimensão, folhas mais pequenas e casca lisa (5).

O Eucalyptus alba é uma pequena árvore (até 20 m), de folha caduca, que ocorre no arquipélago de Sonda Oriental (incluindo a ilha de Timor), arquipélago de Banda, Sul da Papua Nova Guiné e Norte da Austrália, conhecida mundialmente como Timor white gum. A referência à cor branca, quer no nome científico (alba), quer no nome comum, deve-se ao facto de possuir um tronco liso, de cor clara, quase branca. Na Ilha de Timor, aparece junto com E. urophylla, abaixo dos 1500 m de altitude ou em substituição deste em ambientes mais secos. O E. alba encontrado no Norte da Austrália apresenta características de folha e fruto um pouco distintas da variedade Timorense (1, 5, 6).

Histórias como estas mostram-nos que a relação entre os portugueses e o eucalipto não se resume ao passado recente, é bem mais antiga do que muitos imaginam, tendo raízes históricas profundas que convém recordar.

Bibliografia:

1. Slee, A.V., Brooker, M.I.H., Duffy, S.M. & West, J.G. (2006) EUCLID: Eucalypts of Australia. 3rd Edition. Centre for Plant Biodiversity Research. CSIRO Publishing, Canberra. ISBN: 0643093354 (https://www.anbg.gov.au/cpbr/cd-keys/euclid3/euclidsample/html/)

2. Doughty, R.W. (2000) The Eucalyptus - A Natural and Commercial History of the Gum Tree.. The Johns Hopkins University Press. Baltimore

3. Coppen, J.W. (2002) Eucalyptus: The Genus Eucalyptus. CRC Press. London.

4. Sanchez, A.C. (2010) O sândalo na história de Timor. Magazine Presidência da República de Timor-Leste No.3 December 2010. Presidência da República de Timor-Leste, Díli.

5. Pryor, L.D.; Williams, E.R. & Gunn, B.V. (1995) A morphometric analysis of Eucalyptus urophylla and related taxa with descriptions of two new species. Australian Systematic Botany 8(1), 57-70.

6. Goes, E. (1977). Os Eucaliptos (Ecologia, Cultura, Produções e Rentabilidade). Publicação da Portucel. Lisboa

7. Goes. E. (1985) Os Eucaliptos (Identificação e monografia de 121 espécies existentes em Portugal). Publicação da Portucel. Lisboa

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