23-12-2019 - Quinta de S. Francisco

Eucalipto arco-íris - uma árvore naturalmente enfeitada

Eucalipto arco-íris - uma árvore naturalmente enfeitada
Quando pensamos em árvores de Natal vêm-nos à cabeça uma série de espécies, normalmente coníferas (pinheiros, abetos, etc.). No entanto existem outras espécies que pelo seu colorido e floração abundante poderiam ser verdadeiras árvores de Natal, sem precisar de qualquer enfeite ou decoração. É comum muitas árvores de clima temperado, vulgarmente conhecidas como caducifólias, adornarem as suas copas durante o Outono, com as cores surpreendentes das suas folhas, trazendo cor a uma estação que é naturalmente, mais cinzenta. São exemplos disso os bordos (Acer spp.), alguns carvalhos (Quercus spp.) ou o liquidâmbar (Liquidambar styraciflua), entre tantas outras. Há no entanto um eucalipto que pela sua beleza, poderia facilmente ser uma árvore de Natal, não pelas suas flores ou folhas, mas sim pelo colorido do seu tronco. Estamos a falar do eucalipto arco-íris.

O eucalipto arco-íris (Eucalyptus deglupta) é uma grande árvore das florestas equatoriais, podendo medir mais de 50 metros de altura. Pode ser encontrado naturalmente em povoamentos puros nas bacias hidrográficas das ilhas da Nova Bretanha, Nova Guiné, Celebes, Ceram e em Mindanau (na Papua-Nova Guiné, Indonésia e Filipinas, respectivamente). Possui casca lisa caduca, com múltiplas cores, folhas opostas e flores brancas em inflorescências terminais (que apresentam alguma similaridade com algumas espécies do género Corymbia). Conhecida como bagras (nas Filipinas), recebeu o epíteto específico deglupta (do latim degluptere) pela maneira como perde a casca ao longo do tronco, significando literalmente “descascar a pele”. Contudo é conhecida mundialmente como rainbow gum ou eucalipto arco-íris, nome perfeitamente justificável quando observamos as fantásticas cores exibidas pelo tronco.


Legenda:
Eucaliptos arco-íris plantados no Havai. (Crédito das fotos: Christopher Martin; Florestas.pt).
São exatamente as cores vivas que exibe ao longo do tronco que tornam esta árvore famosa e deixam incrédulos a maior parte dos que vêm pela primeira uma imagem desta espécie, pensando que estão a ver fotos manipuladas em algum programa de imagem ou alvo de algum graffiti. Como noutros eucaliptos de casca caduca, a perda da casca não é uniforme e acontece em pequenas tiras. A casca mais velha apresenta uma variação de cores consoante a idade, que varia entre a cor verde escura, azulada, púrpura, laranja, vermelha ou acastanha, mas que após cair revela a cor verde clara da casca nova, recentemente exposta. Estas cores são realçadas pela chuva e destacam-se mais quando o tronco está húmido. Nesta altura a paleta de cores lembra verdadeiramente as cores do arco-íris.

Tal como nas folhas outonais das árvores caducifólias, a casca nova deste eucalipto começa por ser verde (rica em clorofila e portanto contribuindo fotossinteticamente para a planta no competitivo ambiente equatorial). Com o passar do tempo, esta camada começa a morrer e a ser dominada por outros pigmentos acessórios e taninos, que providenciam a paleta de cores observada, até cair novamente e expor uma nova camada verde. A queda da casca dá-se por uma necessidade de renovação (expor a camada viva) e provavelmente para impedir a presença de lianas e outras plantas epífitas ao longo do tronco.

Outras espécies de eucaliptos como o E. globulus subsp. globulus, E. polyanthemos, E. pauciflora, E. pulchella, E. saligna, E. grandis entre outros podem ocasionalmente mostrar cores vivas pela mesma razão (envelhecimento da casca).


Legenda:
Eucalyptus globulus subsp. globulus e E. grandis, na Quinta de S. Francisco, mostrando cores similares ao Eucalipto arco-íris após a chuva.
O eucalipto arco-íris pertence à secção Equatoria do subgénero Minutifructus (que significa com frutos muito pequenos), onde partilha com outras 3 espécies tropicais (E. raveretiana, E. brachyandra e E. howittiana), do Norte da Austrália, algumas características únicas, como por exemplo possuir um cálice com pequenos lobos que caem separadamente muito antes da floração.

Tal como outros eucaliptos, as folhas com ligeiro um suave cheiro a menta são usadas na medicina local e para extração de óleos essenciais. A madeira, por sua vez é usada em mobiliário, construção naval e para a produção de pasta de celulose. Combinando um crescimento extremamente rápido para uma espécie plantada comercialmente (45 m de altura em apenas 14 anos), aliado às boas qualidades da fibra para a indústria da pasta e do papel, têm permitido a expansão desta espécie para outros países com clima similar, como o Brasil, Malásia, Costa do Marfim, Gana, etc.

Este é uma das poucas espécies de eucaliptos não nativos na Austrália e a única espécie de eucalipto a cruzar naturalmente a linha do equador, mostrando que o género tem distribuição natural nos dois hemisférios. É plantado pela sua beleza em muitos jardins do Mundo, onde o clima permite o seu crescimento, inclusive na Austrália.

Esta espécie não é de fácil cultivo fora da faixa equatorial, onde prospera com temperaturas entre os 20-32°C e precipitação da ordem dos 2,500-3,500 mm. Em Portugal é ainda mais difícil de cultivar, uma vez que esta espécie morre abaixo dos 2°C, mas isso não quer dizer que não se possa tentar. Nenhum arboreto de eucaliptos estará verdadeiramente completo sem um Eucalipto arco-íris. Por isso, na Quinta de S. Francisco estamos a fazer esforços para ter muito em breve, um exemplar desta colorida espécie.

Independentemente da espécie que tenham como árvore de Natal, um Bom Natal para todos.

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