Eucalyptus globulus - o príncipe dos eucaliptos
Era assim que o barão von Mueller o chamava, não se cansando de divulgar e difundir na Europa e resto do mundo as virtudes desta espécie desde meados do séc. XIX. Foi graças a este proeminente botânico da flora australiana, que o
Eucalyptus globulus ganhou estatuto mundial como uma das mais importantes espécie florestais. No entanto, a história desta espécie começa muito antes, com a descrição original feita pelo naturalista francês Jacques Labillardière em 1800 a partir de exemplares colhidos e herborizados pelo próprio 8 anos antes, em Recherche Bay, na Tasmânia, durante a viagem de exploração de Bruni d'Entrecasteaux, de 1791. Curiosamente, os franceses impressionados pelo enorme porte e rectidão dos fustes destas árvores, deram uso imediato à madeira da nova espécie descoberta, tendo sido utilizada na reparação dos seus navios. A descrição de Labillardière e o nome
globulus (que significa em forma de globo numa alusão à forma da cápsula) estiveram em risco com a apreensão pelos ingleses, de todo o material científico (incluindo, os exemplares-tipo), mas este foi posteriormente devolvido aos respetivos autores, graças ao empenho pessoal do seu par botânico inglês, Joseph Banks, uma prova que acima dos conflitos entre as nações está o valor universal da ciência.
Eucalyptus globulus subsp. globulus aspeto geral de árvore centenária (esquerda); flores e botões (direita).
Hoje em dia, o
Eucalyptus globulus, conhecido na Austrália como Tasmanian blue gum (pela cor azul-prateada das suas folhas juvenis), é a flor oficial da Tasmânia, local onde é nativo. Mas a sua importância não é apenas local, uma vez que este é provavelmente a uma das espécies de eucaliptos mais conhecida e difundida mundialmente, com mais de 3 milhões de hectares plantados (2012). Em Portugal (sobretudo no centro e norte costeiros), este eucalipto encontrou condições edafoclimáticas excelentes para o seu desenvolvimento, obtendo crescimentos e porte excepcionais e produzindo uma madeira de densidades e rendimentos em pasta difíceis de igualar. Atualmente representa cerca de 25% da área florestal portuguesa ou seja aproximadamente 800,000 hectares plantados (2010), sendo juntamente com o pinheiro-bravo e o sobreiro, uma das 3 espécies florestais predominantes em Portugal.
Eucalyptus globulus subsp. maidenii aspeto geral de árvore centenária (esquerda); cápsulas jovens e cápsulas maduras (direita).
Do ponto de vista taxonómico, considera-se hoje que a espécie Eucalyptus globulus encontra-se dividida em quatro subespécies, nomeadamente:
- Subsp. globulus, a subespécie originalmente identificada por Labillardière, que é a mais conhecida e plantada. Naturalmente restrita aos locais baixos e costeiros dos estados da Tasmânia e ilhas do estreiro de Bass e pontualmente no sudeste de Victoria. Distingue-se facilmente das restantes por possuir botões de grande dimensão, solitários;
- Subsp. bicostata, que ocorre em ambientes de maior elevação, nos estados de Victoria, Nova Gales do Sul e pontualmente na Austrália Meridional. Possui botões não pedicelados em grupos de 3;
- Subsp. pseudoglobulus, que no passado foi E. pseudoglobulus, encontrando-se naturalmente no estado de Victoria. Também possui botões em grupos de 3, mas distingue-se da anterior por estes serem pedicelados;
- Subsp. maidenii, o antigo E. maidenii, que o Barão von Mueller batizou em honra do botânico Joseph Maiden, autor de uma importante revisão do género Eucalyptus. Encontra-se na região costeira de Victoria e Nova Gales do Sul. Esta é a única subespécie a possuir botões em grupos de 7.
Legenda:
Mapa com a área de distribuição natural de todas as subespécies de Eucalyptus globulus (adaptado de Slee et al 2006)
Em 1920, um dos grandes divulgadores das virtudes dos eucaliptos em Portugal, o Dr. Jaime Magalhães Lima, dizia sobre
E. globulus: ”O que sobre ele se tem escripto formaria uma bibliotheca; mas a pujança em que a cada passo se ostenta, substitue-a com vantagem”. Atualmente podem ser observadas na Quinta de S. Francisco, 3 subespécies (
globulus, maidenii e
bicostata), possuindo as duas primeiras vários exemplares centenários.
Bibliografia:
Borralho, N.M.G. (2006) Como explorar as diferenças e semelhanças entre as várias subespécies de Eucalyptus globulus. 2º Simpósio Iberoamericano de Eucalyptus globulus, Pontevedra, Espanha, 17-20 de Outubro 2006.
Lima, J.M. (1920) Eucaliptos e Acácias: Vinte anos de experiências. 1ª Ed. Publicação do quinzenário agrícola “O Lavrador” de ‘O Comércio do Porto’, Porto.
Potts, B.M.; Kantvilas, G. & Jarman, S.J. (eds) (2006) Janet Somerville's botanical history of Tasmania. University of Tasmania, Tasmanian Museum & Art Gallery, Hobart, Tasmania.
Slee, A.V., Brooker, M.I.H., Duffy, S.M. & West, J.G. (2006) EUCLID: Eucalypts of Australia. 3rd Edition. Centre for Plant Biodiversity Research. CSIRO Publishing, Canberra, Australia. ISBN: 0643093354 (DVD-ROM)
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